sexta-feira, 13 de junho de 2014

Estudo de Caso: QUESTÃO INDÍGENA (Parte I - conceituação e origem do nativo da América)

I- Conceito de Indígena
A utilização do vocábulo "índio" na língua portuguesa tem problemas relacionados à origem. Para retomá-los voltemos um pouco na História. Cabe relembrar que na transição da Idade Média à Idade Moderna o Oriente mostrava-se como alternativa às crises que a Europa passava (Peste Negra, Revoltas Camponesas, Guerra dos 100 anos, Grande Fome, etc). Assim, a rota da seda na China e a busca de especiarias na Índia eram corriqueiras entre mercadores europeus. 
Assim sendo, cabe desde já afirmar que dicionários etimológicos europeus retomam a origem do termo "indian" ou "índio" relacionadas ao contato entre o povo da Europa e os moradores Índia. Segundo publicações, relatos de viagens e outros documentos históricos, o europeu denominava* "indian" ou "índio" os habitantes de áreas correspondentes à Índia atual, bem como outras áreas do Oriente.  
Seguindo a análise histórica, salienta-se que a dificuldade de se enquadrar ao modelo feudal (baseado principalmente na agricultura de subsistência) propiciou que algumas partes da Europa se dedicassem ao comércio. Gênova, Florença e- principalmente- Veneza figuraram como expoentes no comércio marítimo no final da Idade Médio. Desta forma, as cidades italianas figuraram como grandes mercadores no eixo ocidente-oriente por meio do Mar Mediterrâneo.
Com o processo de unificação ibérica, expulsão dos mouros e a subida ao poder da Dinastia de Avis espanhóis e portugueses foram ao mar! Entretanto, a concorrência ibérica não agradou os comerciantes que viviam do comércio mediterrânico. Há vários relatos de pirataria ( saques de embarcações e grandes disputas, algumas que incidiram no afundamento de embarcações) no Mediterrâneo. 
Para evitar os riscos e perigos mediterrânicos, portugueses e espanhóis buscaram outra forma de chegar ao Oriente. Os portugueses desenvolveram a proposta do Périplo Africano (visava alcançar o Oriente por meio do contorno do litoral africano) e os espanhóis foram ao mar baseados no projeto da Circunavegação (visto que acreditavam na teoria da esfericidade da Terra, com a ajuda do italiano Colombo desejavam alcançar o Oriente contornando o globo terrestre). Com tais pressupostos espanhóis chegaram à America e portugueses  ao Brasil. 
Os portugueses, com recursos de localização limitados pelas condições tecnológicas do período, chegaram ao Brasil acreditando porém - afirmam as correntes historiográficas mais aceitas- crendo na chegada à Índia. Apesar de algumas cidades indianas terem população considerável, era bem sabido que parte considerável do que conhecemos por Índia (e seus arredores) tinham uma população esparsa e com hábitos culturais distinto daqueles relatados nos cadernos de vários viajantes. Não por acaso os nativos do Brasil ficaram denominados de "índios", isto é, foram denominados de habitantes da Índia. Á guisa de conclusão é mister sublinhar que o termo "índio" é dado erroneamente pelo europeu* ao nativo do Brasil.

* Eurocentrismo
Na construção do conceito de "índio" para o nativo da América ou para os nativos do Oriente vemos uma noção do europeu para o nativo. Na trata-se de uma autodeterminação dativa sobre si. Este modelo de conceituação do mundo a partir da Europa, colocando a visão dos europeus no centro dos processos explicativos, da-se o nome de EUROCENTRISMO. Esta forma de explicar o mundo se desenvolveu a partir dos cronistas do início da Idade Moderna em consequência da expansão marítimo-comercial. Segundo a visão  eurocêntrica, a visão dos nativos é relegada ao plano secundário e, por sua vez, a Europa é tratada como protagonista da História de todo o planeta. Para saber mais veja o texto a seguir:

"Eurocentrismo corresponde a uma expressão que emite a ideia no mundo como um todo de que a Europa e seus elementos culturais são referência no contexto de composição de toda sociedade moderna. 
De acordo com diversos estudiosos e analistas essa perspectiva se mostra como uma doutrina que toma a cultura européia como a pioneira da história, dessa forma se enquadra como uma referência mundial para todas as nações, como se apenas a cultura Européia fosse útil e verdadeira. 

Essa ideologia de centralidade cultural européia ganhou uma proporção tão grande que dentro e fora da Europa existe a visão de que essa representa toda a cultura ocidental no mundo. 

No entanto, esse fechamento cultural é negativo uma vez que não leva em consideração as inúmeras culturas de civilizações que contribuem para a diversidade sociocultural do mundo, principalmente daquelas nações que foram colonizadas pelos europeus a partir do século XV. 

Apesar desse processo recentemente estar recebendo uma série de questionamentos e críticas contrários na própria Europa e em outras sociedades globais, mesmo assim isso continua ocorrendo. Um exemplo mais claro disso é a divisão do planeta Terra em hemisfério ocidental e hemisfério oriental uma vez que o Meridiano principal de mudança de data está localizado em município na periferia de Londres chamado de Greenwich". 
Fonte: http://www.mundoeducacao.com/geografia/eurocentrismo.htm

*Etnocentrismo
Trata-se do conceito antropológico no qual determinada etnia, tribo ou grupo social por considerar-se superior, mais avançado ou "escolhido", utiliza apenas sua ótica nas análises dos fatos e fenômenos cotidianos. Em outras palavra, está relacionado ao fato de colocar seus valores culturais numa patamar diferenciado (como se fosse mais importante que estes são melhores que de outro grupo). 

II- O povoamento da América

"A Pré-história americana, em princípio, foca suas discussões sobre o período em que os primeiros homens pré-históricos ocuparam nosso continente. Esse assunto conta com diferentes pesquisas que indicam datas que variam entre 20 e 35 mil anos atrás. Investigações científicas ainda mais recentes trabalham com um período de 50 mil anos atrás.
Alguns cientistas trabalham com a hipótese de que a América, assim como os continentes africano e asiático, contava com populações próprias ou nativas. No entanto, a tese do autoctonismo não conta com afirmações materiais, pois ainda não foram encontrados fósseis humanos anteriores ao do Homo sapiens sapiens. Com isso, as correntes teóricas que defendem que grupos humanos teriam migrado de outros continentes para a América ganham maior destaque.
A teoria migratória de maior destaque acredita que os primeiros grupos humanos a chegar ao continente contavam com semelhanças físicas próximas das populações mongolóides e pré-mongolóides da Ásia. A chegada desses povos à América aconteceu graças ao congelamento do Estreito de Bering, que separa o continente asiático da porção norte da América. Há cerca de 12 mil anos, o congelamento do Estreito e a baixa no nível das águas do Oceano Glacial Ártico permitiram a migração do homem pré-histórico asiático para a América.
Os defensores dessa tese migratória se embasam nos vestígios pré-históricos encontrados no sítio de Clóvis, localizado no Novo México (EUA). No entanto, essa tese sofre grande questionamento. Uma dessas suspeitas sobre a Teoria do Estreito de Bering aconteceu quando, em 1975, o fóssil de uma mulher foi encontrado na região de Lagoa Santa, situada no estado brasileiro de Minas Gerais. Apelidada de “Luzia”, o antigo fóssil tem uma datação equivalente a dos primeiros povos a ocuparem a América do Norte. Além disso, seus traços são negróides como os das populações do continente africano ou dos aborígines australianos.
Baseado nessa descoberta revolucionária, a comunidade científica trabalha com uma terceira hipótese. De acordo com esses estudos, as populações que ocuparam primeiro o continente vieram de regiões do sul asiático, da Polinésia e da Oceania. Tais grupos humanos teriam se deslocado por meio de navegações feitas em embarcações de pequeno porte. Com o passar do tempo fixaram-se no litoral leste do continente americano e, posteriormente, buscado áreas pelo interior da América.
Sem chegar a um consenso final, as pesquisas arqueológicas e paleontológicas continuam na América. Cada dia, novas descobertas vão ampliando o debate sobre os povos formadores do nosso continente. Dessa forma, muitos vestígios pré-históricos americanos ainda esperam seu encontro com o homem contemporâneo".
Fonte: http://www.brasilescola.com/historia-da-america/ocupacao-continente-americano.htm

III- Síntese das Principais Teorias




Nome das Teorias Segundo os Pesquisadores Nacionais (Em Português)
- Vermelho: Teoria Asiática (Teoria Mais Aceita)

- Verde: Teoria Malaio-Polinésia
- Amarelo: Teoria Australiana


Saiba Mais: Pesquisadora brasileira encontrou vestígios que discordam da teoria mais aceita de ocupação da América.


O primeiro brasileiro

A arqueóloga Niède Guidon faz um balanço das descobertas no Piauí que podem mudar as teorias do surgimento do homem na América

Há 30 anos, a arqueóloga Niède Guidon tenta provar que o homem chegou à América muito antes do que se imaginava. Formada na Universidade de Sorbonne, na França, essa paulista de Jaú se mudou em 1992 para a cidade de São Raimundo Nonato para estudar a vida dos primeiros habitantes do Brasil no hoje famoso Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. A área tem cerca de 600 sítios arqueológicos com paredões repletos de pinturas rupestres e outros vestígios, como ferramentas de pedra lascada, esqueletos e urnas funerárias.
Nos últimos dois anos, a datação de pinturas rupestres no parque com cerca de 35 mil anos e de dentes humanos de 15 mil anos atrás promete sacudir o estudo da chegada no homem à América. A teoria mais aceita sobre o povoamento do continente diz que o homem veio pelo estreito de Behring, entre a Rússia e o Alasca, por volta de 13 mil anos atrás. Apesar de a equipe da arqueóloga já ter encontrado, há mais de uma década, restos de uma fogueira de 48 mil anos, a descoberta foi encarada com ceticismo por outros pesquisadores, que diziam que a fogueira poderia ter surgido de uma combustão espontânea. “A idéia de que o homem veio para a América há 13 mil anos é da década de 50”, diz Niède. “De lá para cá, as novas descobertas têm mostrado que ele já estava aqui há muito mais tempo.”
Como as descobertas no Parque Nacional da Serra da Capivara estão abalando as teorias vigentes sobre o povoamento da América?
Um dos achados importantes foi a descoberta de uma pintura que estava coberta por uma camada de calcita. Essa calcita foi retirada pelo professor Shigueo Watanabe (do Instituto de Física da USP, em São Paulo), que a datou em 35 mil anos. Portanto, as figuras têm, no mínimo, essa idade. Encontramos também dentes humanos datados em 15 mil anos.
Esses achados vão contra a teoria mais aceita, de que o homem chegou à América há cerca de 13 mil anos...
O que as pessoas chamam de teoria vigente sobre a presença do homem na América é uma tese dos anos 50. De lá para cá, surgiram novas descobertas aqui, no México, no Chile e em outros lugares do continente. As pesquisas desenvolvidas na serra da Capivara estão dentro de um novo contexto. Os dentes que achamos são os restos humanos mais antigos já encontrados na América. Sei da importância desse achado. Mas vejo com naturalidade, porque está dentro de um processo e é resultado de um trabalho de muitos anos, que ainda deve render muitas outras descobertas importantes.
Como o homem teria chegado à América? As descobertas no parque ajudam a desvendar esse segredo?
Estamos fazendo análise do DNA dos esqueletos encontrados na região. Esse trabalho está em processo na Universidade de Michigan, nos EUA. Comparando-se esse DNA com o encontrado em restos humanos de outras partes do continente, poderemos estabelecer uma teoria. Minha hipótese é a de que houve várias entradas, por diversos caminhos, inclusive por mar. E em várias épocas diferentes. O homem saiu da África e se espalhou pelo mundo. É um absurdo achar que o continente foi povoado somente pelo estreito de Behring. Outro indício forte de que houve vários caminhos e levas migratórias é a grande variedade lingüística encontrada entre os povos indígenas da América.
Como o trabalho em arqueologia no Brasil é visto por pesquisadores de outros países, já que temos pouca tradição na área?
Não concordo com isso. Temos, sim, uma tradição. Até mesmo porque instituições de todo o mundo nos procuram para firmar acordos de pesquisa. Em 2003 devemos receber pesquisadores ingleses, franceses e de outras nacionalidades, em convênio com universidades brasileiras, como a Federal de Pernambuco.
Por que então esses achados, apesar de importantes, não tiveram repercussão?
A publicação do resultado obtido pelo professor Shigueo Watanabe sobre as pinturas de 35 mil anos foi feita no ano passado, na revista Journal of Archaeological Science, e começa a repercutir – tenho recebido várias consultas sobre o assunto. A datação dos dentes foi publicada em português. Infelizmente, nossos colegas norte-americanos não lêem as publicações em português nem em francês. E a maioria dos nossos trabalhos é publicada nessas línguas. No final do ano conseguimos publicar em inglês a monografia sobre os achados no Boqueirão da Pedra Furada, o que nos deu muito trabalho, com alto custo financeiro. Em 2002, tivemos quatro artigos publicados em revistas internacionais de língua inglesa. E agora houve uma proposta para que façamos uma síntese dos 30 anos de pesquisa no Parque Nacional, que deve ser publicada numa revista norte-americana, provavelmente a American Antiguity.
As novas descobertas foram datadas pelos métodos tradicionais ou houve algum avanço nessa área?
O professor Shigueo Watanabe datou a calcita com uma metodologia nova chamada Electronic Spin Resonance, um método físico que eu não conheço muito profundamente. O resultado dos dentes foi obtido pelo método do carbono 14, mas com uma máquina especial chamada AMS (Accelerator Mass Spectrometry, ou espectrometria de massa por acelerador), que permite a datação mesmo de pequenas quantidades de carvão.
Quais são as pesquisas mais promissoras feitas hoje na área do parque?
No final de novembro, foi descoberto um sítio promissor que me deixou empolgada. Fica em um local elevado, junto ao que foi um dia uma cachoeira. As rochas do local eram ótimas para serem lascadas. Provavelmente, os homens usavam o local para fabricar os instrumentos e os levavam depois consigo. Acho que poderemos estabelecer semelhanças entre as técnicas usadas ali com as que eram aplicadas em alguns pontos da Europa há 30 mil anos, assim como já podemos comparar pinturas rupestres do parque com outras muito antigas, de outras partes do mundo. Estamos escavando também uma área chamada Serrote, onde achamos sete esqueletos, um número extremamente importante no Brasil, já que é pequeno o número de esqueletos encontrados por aqui. Na Serra Branca (região remota do parque, fechada à visitação), terminamos uma escavação que encontrou uma rocha a 10,3 metros de profundidade, que também deve nos dar preciosas informações sobre as mudanças do clima e do relevo da região.
Niède Guidon
• Tem 69 anos, fez carreira na França e desde 1992 mora em São Raimundo Nonato (PI).
• Comanda a Fundação Museu do Homem Americano, que em parceria com o Ibama, administra o Parque Nacional da Serra da Capivara.
• Gosta de caminhar sozinha por trilhas em meio à caatinga. Já topou com duas onças nessas incursões.
"O homem não chegou à América apenas por uma região. É absurdo achar que o continente todo foi povoado a partir do Alasca"
Fonte: http://super.abril.com.br/ciencia/primeiro-brasileiro-443602.shtml 








SÍNTESE POR TÓPICOS


Estudo de Caso: QUESTÃO INDÍGENA  (Parte I) 

I- Etnocentrismo e eurocentrismo
Etnocentrismo
Trata-se do conceito antropológico no qual determinada etnia, tribo ou grupo social por considerar-se superior, mais avançado ou "escolhido", utiliza apenas sua ótica nas análises dos fatos e fenômenos cotidianos. Em outras palavra, está relacionado ao fato de colocar seus valores culturais numa patamar diferenciado (como se fosse mais importante que estes são melhores que de outro grupo)


Eurocentrismo
"Eurocentrismo corresponde a uma expressão que emite a idéia no mundo como um todo de que a Europa e seus elementos culturais são referência no contexto de composição de toda sociedade moderna. 
De acordo com diversos estudiosos e analistas essa perspectiva se mostra como uma doutrina que toma a cultura européia como a pioneira da história, dessa forma se enquadra como uma referência mundial para todas as nações, como se apenas a cultura Européia fosse útil e verdadeira". 
Fonte: http://www.mundoeducacao.com/geografia/eurocentrismo.htm


II- Conceito de Indígena
- Contexto Histórico: Expansão marítimo-comercial 
- O interesse no Oriente e a Índia
- O monopólio italiano no Mediterrâneo
- A busca por rotas alternativas e a chegada à América
- Índio = erro conceitual (originário) + visão eurocêntrica
Caminho dos Europeus em busca de produtos
Mapa-Mundi (continentes)


II- O povoamento da América
- Pressupostos científicos
- Teorias:



III- Niède Guidon e suas pesquisas
Achados em São Raimundo Nonato (PI):
- Pinturas Rupestres
- Material Lítico
- RESTO DE COMBUSTÃO ORGANIZADA (Datação 45- 50 mil a.a.)









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