quarta-feira, 11 de junho de 2014

Artigos Relacionados com a Palestra: CAVERNAS


17/09/2012 - 07h00
O que aprender para encarar os novos tempos
Alfabetizados e socializados online, os jovens que cresceram com a internet (ou melhor, na internet) veem o mundo em completa transformação.
Eles não "surfam" na rede, a web para eles não é um "espaço virtual", nem mesmo é externa à realidade. Invisível e constante, ela é complementar ao mundo físico. Mais do que uma tecnologia, ela é uma linguagem. Novos aparelhos aparecem e desaparecem, a Internet persiste.
Ela, que já esteve restrita a mainframes e browsers, hoje começa a deixar os celulares e invadir eletrodomésticos e roupas.
Esse contexto interativo e conectado estimula um novo modo de pensar. Entre os mais jovens a informação é viva, maleável, distribuída em vários lugares, cada um com diferentes níveis de credibilidade. Como em um jogo, a resposta à cada pergunta é conquistada à base de interesse, tempo e esforço. Cabe a cada um filtrar o que encontra e tirar suas próprias conclusões. E elas não são definitivas, podem ser mudadas quando surgirem respostas melhores ou mais convenientes.
Quando comparada com aquela verdade monolítica, dogmática, perene e universal com que se convivia até o fim do século passado, a evolução é clara. A prova de seu sucesso está no volume de pesquisas e no interesse pela educação continuada.
Em nenhuma época da história foram feitas tantas perguntas quanto as que se faz a cada minuto no Google. Nenhuma enciclopédia foi mais folheada do que a Wikipédia. Não há biblioteca tão consultada quanto o volume de informação que trafega livremente hoje. Por mais que ainda se desperdice muito tempo na rede, não tardará para que descuidar do conhecimento seja tão mal-visto quanto descuidar da vestimenta ou da saúde.
Mas o que se deve aprender quando não há ideia vem por aí? Não sou pedagogo nem psicólogo, mas com base nas transformações que acompanho nas últimas três décadas, fiz uma lista de sugestões por idade.
Para começar, os pais. Eles precisam deixar de lado a ansiedade e compreender que seus filhos crescerão e serão moldados em um contexto desconhecido e imprevisível, bem diferente do que sustentou a sociedade do passado. Algo que "sempre foi feito assim" não é mais necessariamente válido. A melhor época para descobrir novas hipóteses é aquela passada em família que, em princípio, tem por seus rebentos grande amor, compreensão e tolerância.
Crianças com mais de cinco anos de idade precisam ser estimuladas a perguntar, a questionar como o filósofo Sócrates propôs. Talvez por medo de subversão em um mundo corporativo e competitivo, é surpreendente a quantidade de adultos que desencorajam o questionamento, limitando a criatividade daqueles que mais tarde precisarão inovar.
Adolescentes por volta dos 15 anos precisam experimentar. Esta é a melhor época para ser desfocado, errar muitas vezes, ter o máximo de contato possível com o que há de mais variado.
O desafio, bem sabem os videogames, estimula o raciocínio. Mas há outros jogos, tão ou mais interessantes do que os jogados em um PlayStation ou XBox. Linguagens de programação, eletrônica, biologia, economia e outras áreas de conhecimento podem, se bem apresentadas, gerar fascínio.
De todos os projetos o mais importante é escolher o que estudar dali para a frente. A educação superior precisa ser um enorme debate, não um conjunto de reuniões passivas, em que se aprende a escutar, aceitar e trapacear, usando o smartphone para matar o tédio. É nessa idade que eles precisam descobrir se a vocação que tem é verdadeiramente deles ou se está para satisfazer os outros.
Recém-formados, jovens de 25 anos tem as últimas novidades e são incansáveis. Suas ideias, apesar de ainda cruas, são ótimas. Essa geração não tem mais a resignação humilde com que seus pais tratavam o trabalho como uma religião, em que problemas administrativos eram de importância fundamental e que o desemprego era uma forma de ostracismo, uma excomunhão.
Mas chefes, professores e pais, em um misto de insegurança e superproteção, os desencorajam. Talvez por isso esteja nessa faixa etária o maior conflito de gerações.
Acima dos 35 anos parece difícil aprender, mas é a época mais fácil. Muitas indústrias levarão um bom tempo para serem completamente transformadas, é uma boa época para se especializar. Se você ainda não está a par das particularidades de segmentos como Comércio Eletrônico e Computação em Nuvem é uma boa época para analisar esses segmentos que tendem a mudar bastante sua carreira, ainda longa, pela frente.
Depois dos 45 é preciso aprender a administrar recursos cada vez mais escassos, equipes remotas, logística e conflitos de todos os tipos. As ferramentas de análise de métricas criam bases de dados cada vez mais detalhadas, mas quem procura boas respostas precisa saber fazer perguntas relevantes.
Com mais de 55 anos há maturidade para analisar seu conhecimento e sistematizar sua produção. Criar blogs, escrever análises, produzir e-books e podcasts é uma boa forma de manter o conhecimento reciclado, ao mesmo tempo que ajuda a debater sua experiência com novas gerações. É também uma boa época para participar de Fóruns e associações diversas, como redes de especialistas e grupos dedicados. Um bom ponto de partida pode estar na análise de quanto mudou a profissão desde a sua formação universitária.
Acima dos 65 é uma boa época para se dedicar a compreender melhor a Arte e a Filosofia (não que sejam desimportantes em outras épocasl). Não se preocupe com os filósofos recentes, que ainda se debatem tentando negar ou rotular o que acontece. Leia Nietzsche, que provavelmente se divertiria com a Internet. Pitágoras, Aristóteles e Epicuro são de uma época parecida com a nossa. Picasso e Duchamp também. Lembre-se de contribuir, sempre que possível, para a Wikipédia.
Depois dos 75, que eu espero ser a meia-idade do Futuro próximo, há muita diversão. A Fotografia, cada vez mais popular, é uma boa forma de manter o cérebro ativo e dinâmico. A partir dessa idade, e videogames estão liberados.

Luli Radfahreré professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas na versão impressa de "Tec" e no site da Folha.

 Fonte:



Artigos da Rosely Sayão: psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa da Folha, na coluna "Equilíbrio".



06/04/2013 - 03h30
Sofrimentos inevitáveis
Costumo ouvir que os pais da atualidade querem poupar seus filhos de sofrimento. Por isso, sentem uma enorme dificuldade para dizer "não" a eles, para permitir que enfrentem as suas frustrações e para deixar que atravessem as situações difíceis que a vida lhes apresenta.
À primeira vista, esse discurso soa como uma verdade, não é mesmo? Afinal, temos visto crianças e adolescentes agirem sem se importar com as normas sociais porque eles se sentem protegidos pelos pais em todas as circunstâncias.
Entretanto, podemos pensar um pouco além dessa linha para tentar compreender melhor o relacionamento atual entre pais e filhos no que diz respeito à chamada "felicidade" das crianças.
Na realidade, pode ser que os pais façam mesmo de tudo para que os filhos não sofram. Mas é preciso considerar que, em geral, eles desejam proteger seus filhos apenas de determinadas experiências dolorosas --não de qualquer uma.
Os pais não querem, por exemplo, que os filhos se sintam excluídos de qualquer situação, de qualquer grupo e de qualquer atividade.
É em nome do desejo adulto de eliminar esse tipo de sofrimento que as crianças fazem as mesmas atividades que os colegas em seus dias de lazer, ganham os mesmos jogos e todo tipo de traquitana tecnológica, frequentam os mesmos lugares, usam roupas e calçados parecidos (quando não são iguais) e vão a mil festas de aniversários, muitas vezes de crianças que nem são amigas próximas.
Os pais também não querem, de maneira alguma, que seus filhos sofram por causa da escola. É por isso que vira e mexe eles vão falar com coordenadores, professores e diretores, reclamam de alguns profissionais, colocam os seus filhos em aulas particulares, fazem a lição de casa com eles --ou no lugar deles-- e estão sempre prontos para defender suas crianças e seus adolescentes de qualquer sanção que tenha sido aplicada pela escola.
E é assim, entre tentativas de evitar um e outro tipo de sofrimento, que os pais vivem a ilusão de construir para seus filhos um mundo que só pode existir em outra dimensão: um mundo onde ninguém os rejeitará, onde não serão excluídos de nada e onde participarão de todos os grupos pelo simples fato de consumirem as mesmas coisas que a maioria.
Doce e amarga ilusão...
Porém, há alguns sofrimentos que os pais da atualidade não evitam que seus filhos experimentem. Ao esconder de crianças e jovens verdades da vida que os envolvem, esses pais fazem com que os filhos sofram se debatendo entre mentiras ou silêncios. Quando o tema é doença ou morte na família, por exemplo, isso acontece bastante.
O que os pais talvez não saibam é que, ao tentarem evitar que os filhos sofram a dor da perda, eles acabam provocando nos mais novos um sofrimento ainda maior que é a dor de não saber, de não entender, de não conseguir simbolizar a angústia que sentem.
Outra dor que os pais provocam e à qual não dão muita importância é a dor do abandono. Buscar o filho na escola bem depois do término da aula; deixar o filho sem parâmetros; permitir que a criança atue como se já fosse responsável por sua vida e colocar em suas mãos escolhas que deveriam ser de adultos são alguns exemplos de atitudes que fazem crianças e adolescentes se sentirem abandonados pelos pais.
E isso dói neles.
Uma garota de nove anos disse uma frase reveladora sobre essa sensação de abandono à sua amiga, que estava triste e constrangida por ter sido impedida pelos pais de acompanhá-la em um passeio: "Não chore por causa disso, não. Eu adoraria que os meus pais se importassem assim comigo".
Os filhos são supostamente protegidos de sofrimentos muitas vezes inevitáveis e, ao mesmo tempo, são colocados em situações nas quais experimentam sofrimentos inúteis. Qual será o resultado desse tipo de equação?


02/04/2013 - 03h30

Medo que dá medo

Muitas mães estão com medo de que os seus filhos sintam medo. Pedem para a escola não contar determinadas histórias e para trocar a indicação do livro que o filho deve ler. Elas também não deixam que as crianças assistam a filmes que, seja qual for o motivo, provoquem medo. Basta que o filme veicule uma ideia: nem precisa conter cenas aterrorizantes.
Essa reação dos pais leva a crer que o medo é necessariamente provocado por um motivo externo à criança e que é uma emoção negativa que os pequenos não devem experimentar. Vamos pensar a esse respeito.
Primeiramente, vamos lembrar que toda criança pequena sentirá medo de algo em algum momento de sua vida. Medo do escuro, medo de perder a mãe e medo de monstro são alguns exemplos. E esses medos não serão originados necessariamente por causa de uma história, de uma situação experimentada ou de um mito. Esses elementos servirão apenas de isca para que o medo surja.
Tomemos como exemplo o medo do escuro. De fato, é na imaginação da criança que reside o que nela lhe dá medo; o escuro apenas oferece campo para que essas imagens de sua imaginação ganhem formato, concretude.
É que, no escuro e em suas sombras, a criança pode "ver" monstros se movimentando e até "ouvir" os rugidos ameaçadores dessas figuras. No ambiente iluminado, tudo volta a ser a realidade conhecida porque a imaginação deixa de ter seu pano de fundo. Os rugidos dos monstros voltam a ser os sons naturais do ambiente. E as monstruosas imagens são diluídas pela claridade.
E por que é bom a criança experimentar o medo desde cedo? Porque essa é uma emoção que pode surgir em qualquer momento da sua vida e é melhor ela aprender a reconhecê-la logo na infância para, assim, começar a desenvolver mecanismos pessoais de reação.
A criança precisa reconhecer, por exemplo, o medo que protege, ou seja, aquele que a ajudará a se desviar de situações de risco. Paralelamente, precisa reconhecer o medo exagerado que a congela, aquele que impede o movimento da vida e que exige superação.
É experimentando os mais variados medos que a criança vai perceber e aprender que alguns medos precisam ser respeitados pelo aviso de perigo que dão, enquanto outros medos exigem uma estratégia de enfrentamento que se consegue com coragem.
A coragem, portanto, nasce do medo. E quem não quer que o seu filho desenvolva tal virtude?
Por fim, é bom lembrar que, muitas vezes, a criança procura sentir medo por gostar de viver uma situação que, apesar de difícil, ela pode superar. Cito como exemplo um mito urbano que provoca medo em muitas crianças na escola: "a loira do banheiro". Para quem não a conhece, é a imagem de uma mulher que assusta as crianças quando elas vão ao banheiro.
Uma escola decidiu acabar com esse mito. Por meio de várias estratégias conseguiu convencer os alunos de que isso não existia. Alguns meses depois, as crianças construíram outro mito para que pudessem sentir o mesmo medo que experimentavam quando se viam perseguidos pela "loira do banheiro".
E quantas crianças não choram de medo depois de ouvir uma história e, no dia seguinte, pedem aos pais que a contem novamente?
Conclusão: o que pode atrapalhar a criança não é o medo que ela sente, e sim o medo que os pais sentem de que ela sinta medo. Isso porque a criança pode entender que os pais a consideram desprovida de recursos para enfrentar os medos que a vida lhe apresenta.
Fonte
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/1255390-medo-que-da-medo.shtml

16/10/2012 - 03h30
Medo de crescer
A mãe de um garoto de sete anos está preocupada porque, nos últimos meses, ele anda medroso. Tem medo do escuro, de monstros, de andar sozinho pela casa. Nem mesmo ao banheiro ele consegue ir sozinho.
Ela achava que os "medos bobos", como os chama, não teriam mais força com a chegada dos sete anos.
Já outra mãe, cuja filha tem a mesma idade do garoto acima citado, anda é muito irritada com a menina. "Parece adolescente!", diz ela. Desobedece, faz birras sem o menor sentido, só quer fazer o que quer e na hora que quer, anda respondona e chegou, inclusive, a xingar a mãe com um palavrão. A mãe diz que sabe que a filha desconhece o sentido do que falou, mas, mesmo assim, ficou muito brava com a atitude dela.
Os desabafos dessas mães podem nos servir de guia para uma conversa a respeito dessa idade: os sete anos, um pouco menos ou um pouco mais, de acordo com cada criança.
Nos primeiros anos de vida da criança, ela tem uma grande dependência dos pais ou de seus substitutos.
Vamos tomar como exemplo a relação da criança pequena com sua mãe. É um apego enorme e recíproco, não é mesmo?
Isso porque o vínculo criado entre ambas é o responsável pelo desenvolvimento da criança, por sua segurança, por sua identidade etc.
Ou seja, é essa relação que, mesmo à distância, permite à criança explorar o mundo, se conhecer e se reconhecer como participante de um grupo, que é a sua família.
Nesse período, os pais representam para a criança sua proteção, sua defesa, sua garantia de que ela pode viver e experimentar o que quiser. Ficar longe dos pais apenas é possível se a criança sente que quem a recebe conta com a confiança deles.
A partir dos seis anos, mais ou menos, a criança começa a perceber, pelo andamento da vida, que vai começar a crescer. E, mesmo que intuitivamente, pressente que crescer significará se afastar de sua mãe, de seus pais.
Isso pode provocar sentimentos contraditórios: entusiasmo e --por que não?-- medo, revolta.
Entusiasmo porque crescer significa ganhar autonomia, mais vida. Medo porque isso significa perder a proteção, a defesa, a garantia de que tudo ficará bem.
É por isso que muitos pais enfrentam momentos de crise com seus filhos dessa faixa de idade. Tudo o que essas crianças precisam é sentir que seus pais continuarão ali, ao seu lado.
Não são medos bobos o que as crianças dessa idade sentem. Esses temores podem ser traduzidos em um dos que o garoto do primeiro exemplo expressa ao pé da letra: medo de ficar sozinho, ou seja, sem seus pais.
A rebeldia, por outro lado, não tem nada de adolescente. É braveza: a criança sabe que os pais se afastarão dela para que ela comece a andar com as próprias pernas.
Toda mãe lembra dos primeiros passos dos seus filhos: hesitantes, desequilibrados, sem harmonia. E assim será também agora, com os primeiros passos de outra ordem.
É preciso que os pais sinalizem aos filhos que eles continuam por ali, estimulando esses passos. Os primeiros podem ser acompanhados, apoiados, apenas para oferecer tranquilidade para que, em seguida, os filhos possam continuar sozinhos.
O que não vale é ampará-los antes que caiam ou impedir que caminhem. Não foi assim com os primeiros passos reais, não deve ser assim com essa nova fase. E sempre é bom lembrar: crescer dói, mas é preciso.
 Fonte:



Nenhum comentário:

Postar um comentário